AMORPHIS - Contos Sombrios da Finlândia
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Rock Brigade,
Dezembro/96
Mudança de estilo é definitivamente um grande desafio para qualquer banda estabilizada. Principalmente no death metal, em que a maioria dos fãs são imutáveis e exigentes, a transição para outros territórios musicais significa comercialização ou traição ao movimento. Contudo, isso não acontece ao Amorphis.
Quando esta banda finlandesa lançou, em 91, sua primeira demo-tape, Disment
Of Soul, as influências do death metal tradicional eram óbvias. Porém, com o lançamento dos álbuns The Karelian Ishtmus, Privilege Of Evil (EP) and Tales From The Thousand Lakes, Amorphis gradualmente inspirou seu estilo na cultura e história finlandesa, já que o death metal não podia mais refletir o desejo de mudança. Após cinco anos, eles demonstram seu aprimoramento musical com Elegy, um trabalho artístico com melodias indianas, teclados atmosféricos w guitarras psicodélicas somados à agressividade do mais puro heavy metal.
Nossos gostos musicais mudaram bastante durante os anos", diz o guitarrista e compositor principal Esa Holopainen, explicando o motivo da transição de estilos. "Além disso, a metade dos membros da banda são novos. Nosso tecladista novo, por exemplo, nunca tocou em bandas de death metal. Ele tocava jazz, soul e funk com bandas locais em clubes. Logicamente ainda ouvimos heavy metal, mas também curtimos folk e música progressiva dos anos 70. Tentamos ter a cabeça aberta para todos os estilos musicais. Nosso álbum anterior, Tales..., foi como uma procura pelo som que atingimos noElegy."
Diversos fãs de death metal levaram tempo para digerir tais mudanças, mas músicas como Better Unborn, The Orphan, e Cares provam que o Amorphis não mudou para algo abaixo de seu talento. Ainda que vocais grunhidos e batidas rápidas sejam, agora, coisas do passado, o sentimento e musicalidade deElegy compensam qualquer sinal de mudança, fazendo dele um dos trabalhos mais fantásticos dos anos 90. Sendo assim, como Esa analisa a reação dos fãs antigos?
"Logicamente, há fãs que preferem as músicas antigas, mas a maioria de nossos fãs sabe que a banda muda e algo novo sempre acontece", diz. "O melhor sentimento é saber que os fãs do primeiro álbum podem curtir e considerar o novo álbum nosso melhor trabalho. Assim, estes fãs estão no mesmo nível da banda. Ainda gostamos bastante do nosso primeiro álbum. Apesar de ser puramente death metal, ele reflete bem nossos gostos e influências musicais da época. Não poderíamos fazer outro álbum parecido porque não sentimos mais este estilo musical."
Após diversas mudanças de formação, o Amorphis é atualmente completado por Tomi Koivusaari (vocal, guitarra, tamborim), Olli-Pekka Laine (baixo), Kim Rantala (teclado), Pekka Kasari (bateria) e Pasi Koskinen (vocal). O sexteto tira o máximo de seus instrumentos em Elegy, interpretando cada música com efeitos sonoros, guitarras dobradas e dedilhados limpos. Consequentemente, Elegy é o típico álbum que o ouvinte descobre uma nova somoridade a cada audição.
"Ensaiamos muito antes de entrar em estudio", Esa comenta sobre a diversificação musical da banda. "Cada membro do Amorphis compõe e cuida de suas próprias partes musicais. Ninguém precisa se preocupar com os afazeres dos outros membros. Nós confiamos uns nos outros, cada um cria sua própria parte e tudo acaba resultando no estilo do Amorphis. É demais que cada membro na banda possa se autocontrolar. Somos livres para fazer o que desejamos."
Seguindo a tradição de muitas bandas européias, como tiamat, Moonspell ou Unleashed, o Amorphis se inspira na cultura de seu próprio país para compor. Principalmente com Elegy e Tales From The Thousand Lakes, as melodias místicas são bordadas pela influência da herança finlandesa. Como a banda decidiu explorar sua nacionalidade na expressão artística?
"Tradicionalmente, nossa cultura é bastante rica e antiga", diz Esa. "Ela tem uma origem filosófica e mitológica, o que nos deu idéia para Tales.... Esta foi uma área interessante e próxima à banda. Estas influências eram novidade no passado, mas, agora, há diversas bandas que utilizam a mitologia escandinava em suas letras."
Nos EUA, por exemplo, bandas utilizam suas letras para "derrubar" a sociedade e o governo americano. Já com o Amorphis, a cultura finlandesa é extremamente valorizada nas letras. Os temas de Elegy's, inclusive, são baseados no livro finlandês The Kantelar. Publicado em 1840, ele traz 700 poemas e histórias baseadas nas velhas tradições do país. E, anteriormente, o Amorphis se inspirou no livro The Kalevava - também compilado pela mesma pessoa responsável por The Kantelar - para compor Tales From The Thousand
Lakes.
"As bandas européias se cansaram de escrever sobre bostas sociais, pois estas coisas podem ser lidas em qualquer jornal", diz Esa. "Sempre compomos a música primeiro, selecionamos depois seu poema ou história. Algumas vezes é difícil encontrar as letras que se encaixem bem na música. Mas, quando as encontramos, o sentimento pode ser captado pelas pessoas que a ouvem."
Já que se falou tanto na relação entre o Amorphis e seu país natal, como a Finlândia os diferenciaria das demais bandas européias que tocam "heavy metal mitológico"?
"Há dois elementos que dão originalidade à banda", diz Esa. "O primeiro é que, devido à nossa cultura musical, usamos bastante o folk finlandês para ajudar em nossa composição. Temos utilizado velhas melodias deste estilo musical. O segundo é obviamente o contexto das letras, pois utilizamos poemas da velha tradição finlandesa. Mas isto não significa que sejamos exageradamente patriotas. Apenas queremos passar às pessoas o que sentimos", finaliza ele.
(entrevista por Daniel Oliveira)
Discografia:
The Karelian Isthmus (92), Privilege of Evil (EP/93), Tales From The Thousand
Lakes (94), Black Winter Day (EP/95), Elegy (96).